quinta-feira, 16 de julho de 2009

Só não pode faltar luz...


Passei uma tarde inteira pensando sobre o que escrever neste nosso primeiro blog. Enquanto isso, o mundo não parava e minhas idéias eram embaladas por novos assuntos. Decidi, então, escrever sobre o nosso interesse em criar este espaço. Afinal, são quatro pessoas. Quatro estudantes de jornalismo! Mentes curiosas, pensamentos distintos, vaidade crítica e um desafio: registrar nossas produções ao longo do curso e compor artigos, crônicas e reportagens dedicados especialmente a este blog.

E quem resiste às inovações decorrentes da era da informação? Seja pela propagação instantânea de notícias, pelas possibilidades de criação, comodidade e comunicação interpessoal, a internet representa um instrumento revolucionário entre as novas mídias. Aclamada mundialmente, abrange diferentes classes sociais e atende aos interesses de diversas culturas.

Não há quem se declare indiferente ao encantamento da era digital. O nosso estilo de vida foi modificado pelas novas possibilidades tecnológicas. Podemos viajar a pontos extremos do mundo em poucas horas, fazer transações bancárias online, cadastros informatizados, compras do mês por telefone, cursos de especialização à distancia e, inclusive, conhecer novas pessoas sentados a frente do computador.

Sobrevivemos apoiados no consumo intenso das novas tecnologias. O vasto leque de possibilidades do mundo digital apresenta imensas virtudes a nosso benefício, mas nem todos sabem o que fazer com tudo isso.

O dinamismo da vida nos colocou, ironicamente, diante de uma rotina desgastante. Obedientes aos ponteiros de um relógio, estamos em constante pressa. Seguimos de cabeça baixa, insatisfeitos e movidos por interesses pessoais. Evitamos longas conversas, trocas puras de olhares e palavras sinceras. Os abraços se tornaram impulsivos, o sorriso falso e o amor um sentimento comprimido.

E tudo isso porque nos tornamos fundamentalmente individualistas. Racionais demais e cada vez menos humanos. Confiamos tudo a simples máquinas que compõem uma extensão do nosso corpo e são guardadas como jóias. São elas que nos determinam como viver e esta condição nos permite uma análise mais profunda.

Embora as taxas mundiais acusarem redução do índice de mortalidade e um crescimento da população idosa, envelhecemos rapidamente e da pior maneira. Tudo porque nos acomodamos em simplesmente existir - cumprir deveres e responsabilidades relacionadas ao sustento da família ou realização profissional.

Viver não se restringe a seguir costumes sem criticá-los nem quebrar paradigmas. Ou dedicar anos a simplesmente completar a mesma rotina (sem buscar algo novo, sentimentos novos e experiências coletivas). Viver é definido por outro sentido. O oposto. Por isso, a morte nos consome diariamente: em cada palavra dita aos ventos ou quando erramos em não reconhecer ou afirmar nossos valores.

As novas gerações desconhecem a importância dos laços familiares. Estes são substituídos pelo apego as novas mídias de entretenimento. A transmissão do conhecimento, o valor familiar e a formação moral foram perdidos. E é apenas o começo de uma nova era.

Podemos presumir o tempo em que não nos desgrudaremos da cadeira em frente ao computador ou do lugar estratégico do sofá. Com um controle grudado na mão ficaremos sentados um dia inteiro assistindo televisão. Inteligentemente, inventaremos algum modo para poder mudar o canal ou passar mensagens utilizando o mínimo de esforço. Para suprirmos a fome, teremos pílulas alimentares e para as necessidades fisiológicas, talvez, poltronas e cadeiras móveis com equipamentos sanitários e limpadores automáticos. As relações sociais se resumirão as palavras ditas impulsivamente e conversas curtas - para evitar a dispersão ou atrasos.

Se hoje criamos chips pra conduzirem máquinas, haverá o dia em que os próprios chips estarão dentro de nós, pensando e agindo pelos nossos filhos e netos.
E o irônico é que somos escravizados gratuitamente.

Evitamos compartilhar os bons momentos, aqueles mais simples e intensos; e que justificam o valor da vida. Não suspiramos pelas conquistas diárias. O medo nos impede de experimentar o gosto de um desafio vencido e a certeza de que podemos superar limites. O conceito de felicidade se restringe ao individualismo, às personalidades que podemos assumir anonimamente e as facilidades do uso tecnológico.

Só não pode faltar luz...


Caroline Serra Aguiar
quatroem1@gmail.com