terça-feira, 1 de setembro de 2009

Saiam do laptop!




“Acho que o jornalismo está sendo ameaçado pela internet. E o principal motivo é que a internet faz o trabalho de um jornalista parecer fácil. Quando você liga o laptop em sua cozinha, ou qualquer lugar, tem a sensação de que está conectado com o mundo. (...) Todos estão com a bunda sentada olhando para uma tela de alguns centímetros. Pensam que são jornalistas, mas estão ali sentados e não na rua”.

Gay Talese


Nada como comar um blog com uma declaração como esta, feita pelo jornalista estadunidense Gay Talese. Aclamado mundialmente como um mestre do jornalismo literário, Talese é defensor do Jornalismo feito nas ruas; da sensibilidade em descobrir histórias que merecem ser contadas, e da produção de textos jornalísticos que usam elementos literários, como o romance e a ficção, a fim de envolver melhor os seus leitores.

Pode lhe parecer um discurso romântico sobre o Jornalismo, mas atingiu diretamente a mim - estudante de Comunicação há quase dois anos ciente do quando devo aprender com grandes nomes da mídia mundial e com as análises decorrentes dos caminhos que o Jornalismo tomou nos últimos anos. Não apenas decorrentes da revolução tecnológica, mas, também, de transformações sociais e culturais, como as mudanças geradas pela inserção da mulher no mercado de trabalho - e que originou em mudanças de pauta e abordagem de assuntos que envolvam valores humanitários.

Desde que me decidi pelo curso, tenho sido embalada por grandes mudanças, curiosidades e (muitas) expectativas. Ao mesmo tempo, confusões e crises repentinas, uma sensação interminável de estar perdida e, o pior, iludida. A conhecida linha tênue entre o medo de fracassar e o sonho de ter todo o meu esforço e talento (yeah!) reconhecidos.

Particularmente, naquele trecho que eu destaquei, Talese fez referência aos novos ou antigos, e consagrados, profissionais da mídia que se cederam aos encantos e facilidades da era digital. Uma análise sobre repórteres que optam pelo conforto e praticidade permitidos em pesquisas virtuais ou entrevistas por meio de trocas de mensagens ou telefonemas.

A discussão é válida: qual é o limite do bom uso que fazemos das novas tecnologias? Até que ponto aquelas facilitam nosso trabalho, sem modificar a essência do Jornalismo? Como eu me dedicar a um blog sem compartilhar dos mesmos erros dos mau profissionais?

É complicado, mas preciso conhecer verdadeiramente a profissão que escolhi desde agora. Acostumar a escrever, aprimorar meu vocabulário, aplicar o conhecimento teórico proposto dentro da sala de aula, esforçar para conseguir fontes variadas, entrevistas que acrescentem às minhas matérias e conhecer tudo o que é novo.

Se é verdade o que comentam por ai, que bons estudantes de jornalismo precisam de um blog, aqui está o meu, que mantenho com mais três colegas, e queridas amigas da faculdade.

Este espaço pode representar uma grande oportunidade - o meu ponto de partida. O impulso para traduzir todos os pensamentos que permeiam essas cabecinhas adolescentes e borbulhantes. O incentivo para descobrir o valor das palavras e o sentido que elas assumem dentro do Jornalismo. E, acima de tudo, o desafio em demonstrar que os fundamentos do Jornalismo ainda podem ser mantidos, em sua essência, em paralelo as novas mídias. Que mudanças e desafios devem ser encarados com profissionalismo.

Quero meter o pé na lama; encontrar impulso nas críticas, e orgulho por textos bem escritos e pelo trabalho cumprido. Encontrar limites e superar desafios. Conhecer novas histórias, me permitir conhecer novas pessoas e me abrir a outros mundos. Aprender a ouvir - e quem ouvir. Desconfiar das informações, das fontes, das possibilidades. Investigar. Ir atrás. Praticar um jornalismo ético, apesar do temido deadline; da falta de incentivo das próprias empresas, ou o comodismo em copiar as mesmas notícias divulgadas por outros meios, acrescentando apenas um valor crítico pessoal. Um jornalismo livre.

Começando por sacudir a poeira deste blog e recomeçar a escrever aqui. Pelo prazer ou pelo reconhecimento. Pelo suado esforço ou pelo talento. Como entretenimento ou como uma grande oportunidade de aprender jornalismo. Claro, sem me enclausurar nas possibilidades de uma máquina, - sem me esquecer da rua, o berço da carreira que eu escolhi para toda a vida, onde se faz o verdadeiro Jornalismo.

Caroline Serra Aguiar

quatroem1@gmail.com

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